quinta-feira, 15 de maio de 2014

LETRAS TAQUARENSES Nº 55 MAIO DE 2014 # Antonio Cabral Filho - Rj

LETRAS TAQUARENSES FANZINE
http://pt.calameo.com/books/00189307316ac601c15ae 
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LETRAS TAQUARENSES BLOG
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NESTA EDIÇÃO
haicas, trovas, versos livres dos mais mais notáveis poetas brasileiros: Manoel F. Menendez-Sp, Eliana Ruiz Jimenez-Sc, Neide Rocha Portugal-Pr, Humberto del Maestro-Es, Renata Paccola-Sp, Jessé Nascimento-Rj, Henny Kropf-Rj, Silvério da Costa-Sc, Francisco de Assis Nascimento-Go, Olivaldo Junior-Sp, Franklin Coutinho-Rj, Walter Siqueira-Rj, Ilma Fontes-Se, Aricy Curvello-Es, Leila Miccolis-Rj, Tanussi Cardoso-Rj, Antonio Luiz Lopes Touché-Sp, Walmor DS Colmenero-Sp, Iacyr Anderson Freitas-Mg, Moacy Cirne-Rn, José Jackson Sampaio-Ce, Auri Antonio Ssudati-Rs, José Paulo Paes-Sp e Antonio Cabral Filho-Rj
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sábado, 10 de maio de 2014

HISTÓRIA DE LURDINHAS * Antonio Cabral Filho - Rj


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     Não sei por que razão a "máquina" de Tenório Cavalcante chamava-se Lurdinha. Sei, apenas, que se tratava de uma metralhadora de marca Ina e com ela ele "escreveu" sua história, cobrindo de sangue a Baixada Fluminense.
     A minha Máquina, também, chama-se Lurdinha, mas tem as "mãos limpas" e por uma razão muito justa. É que com ela eu escrevo a minha história e derramo o meu próprio sangue, só que em sentido figurado, é claro.
     É que quando cansei-me da rotatividade no mercado de trabalho, uma das primeiras coisas que fiz foi vender livro nas portas das faculdades do Rio de Janeiro. Isso rendeu-me muita amizade, uma das quais com uma estudante de geografia da Universidade Federal Fluminense - UFF, que levava sua Olivetti portátil para o campus, visando preparar seus trabalhos urgentemente e entregá-los aos professores.
     Como era cansativo carregá-la o tempo todo, ela ficava comigo no saguão do Instituto de Matemática, aonde Lurdinha e seus colegas de turmas se reuniam para preparar os trabalhos.
     O tempo passou de fininho e Lurdinha concluiu geografia, ingressou em pedagogia e a máquina foi ficando comigo. E, graças a isso, acabei "datilografo" ( a quatro dedos, é verdade), oficial da galera, o que contribuiu para gerar alguns dividendos elaborando trabalhos para muita gente.
     Sem ao menos dar por mim, o ano se passava e lá vinha outra leva de calouros com aquela festança, a cara de espanto dos novatos, os trotes, um choro aqui, um namoro ali e o ombro amigo do velho livreiro para guardar os segredinhos da meninada.
     Um dia Lurdinha chegou com um monte de livros e pôs do meu lado...
- É teu!
- Mas... Gaguejei, e, ao notar que eram seus livros de consulta, todos comprados comigo, notei que ela dobrava uma jaqueta jeans, que há um monte de meses não saía da minha cadeira.
- Vai, finalmente, dar uma lavada na pobre, né! Ironizei-a.
- Não! Estou indo para a UFMG; vou morar em frente à Pampulha; até já dei uma volta na lagoa. Adiantou ela, irradiando felicidade.
- E a faculdade? Interroguei, assustado.
- Aqui o diploma! Mostrou-o sorridente, enquanto ajustava a mochila.
     Lurdinha é clarinha, de pele rosada, tem cabelos castanhos lisos, que ela corta à chanel, o que realça seu rosto redondo; seus olhos são esverdeados e mudam de côr ao mínimo reflexo da luz, tem estatura mediana e um corpo que nós, os machos, chamamos de "miñon".
- Tá-qui a máquina! E coloquei-a ao lado a mochila, já cheia de tralhas amarradas por fora.
- Tem ficha de telefone? Viajo hoje à noite  e até lá, quero me despedir de alguns colegas. E continuou falando um monte de coisas, enquanto eu amarrava uma linha com quinze centímetros mais ou menos na única ficha que eu tinha em um palito para que ela pudesse ligar sem perder a ficha.
- P....!! É claro que ela disse uma coisa que não cabe aqui.
- Você é um guerrilheiro! 
- Que isso, companheira! Beijou-me, abraçou-me, e foi saindo com a mochila na mão.
- E a máquina?! E ela voltou-se e disse:
- Eu a trouxe pra cá para bater trabalhos meus e defender um "qualquer" com os trabalhos dos colegas, mas ela virou um "ganha-pão" pra nós dois. Eu não tenho condições de tirá-la de você. Disse isso e virou-se com sua rodadinha característica, deixando-me sentado com a máquina no colo entre as mãos.
- Não é justo que ela se chame Lurdinha?!
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sábado, 3 de maio de 2014

APANHADOR DE SONHOS ANTOLOGIA # Antonio Cabral Filho - Edição Grupo Editorial Beco dos Poetas e Escritores - 2014


APA - RJ


1ª Edição São Paulo
Grupo Editorial
Beco dos Poetas & Escritores 2014
Contato: acf136@ymail.com
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Todos são unânimes quanto à fama, ao prestígio, ao sucesso e estrelato, sobretudo editorial: ninguém nasce popstar, ninguém VIRA Michel Jackson.
O livro APANHADOR DE SONHOS é uma ANTOLOGIA, com 27 autores, entre cronistas, contistas e poetas e vive este mesmo drama. São escritores dos mais díspares rincões do Brasil, entre os quais a exceção é aquele que tem apenas um ou dois livros editados, ou seja, a sua maioria já tem " um caminho andado."

Outro aspecto importante a destacar é a inserção da maioria de seus autores na prosa e no verso, contando-se nos dedos aqueles que se contentam apenas numa modalidade literária.

APANHADOR DE SONHOS ANTOLOGIA
traz ao público  autores bastante seguros na relação com o ato de escrever, o que podemos notar pela destreza dos textos, sem rodeios, sem arranjos nas entrelinhas, tanto na prosa quanto no verso.
Suas temáticas mostram isso, seja pela diversidade de assuntos, seja pela resolução apresentada pelo autor no desenrolar das tramas. Quanto à predominância da preocupação existencial,  a maturidade dos textos  mostra que o centro destes escritores é a solução dos dramas humanos. Confiram Adriano Ferris, Ana Bolena,André Anlub, Antonio Cabral Filho, Arnaldo Leodegário, Beto Acioli, Carolina Nunes, Célia de Almeida Alvarenga, Cintia Rank, Claudynha, Deolinda Nunes, Dú Karmona, Eugênio Morato Quadros, Fernanda Muniz Francisco, Harlei Cursino Vieira, Helládio da Silva Holanda, Isabem C S Vargas, James Pinheiro da Silva, Johnathan Bertsch, Leandro Yossef, Lenival de Andrade, Lin Quintino, Liz Rabello, Nino Campos, Sérgio Francisco de Oliveira, Sirlei Dangui, Zezé DSouza, 

Neste livro o leitor encontra o poeta extasiado com as realizações do amor, o cronista feliz por ter encontrado com um beija-flor a caminho do trabalho e o contista apresentando um estoque de soluções para quem sonha um futuro cheio de certezas.  

APANHADOR DE SONHOS ANTOLOGIA
pode ser adquirido com os autores, seja através de contatos diretos seja via suas páginas na internet, em sua maioria alojadas no Portal Beco dos Poetas, ou Facebook etc, e não fosse a exiguidade desta tiragem de lançamento, os distribuidores teriam um excelente produto de mercado, pois contariam com imensa rede de mídia a seu favor.
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MURMURROS - Conto # Antonio Cabral Filho - Rj

http://consistencia.org/como-fugir-da-cadeia 
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MURMURROS

Já escutava aquele barulho há dias. Era um barulho contínuo, como o som de um trovão prolongado. Colei então o ouvido à parede em busca de melhor acuidade sonora e, só pude convencer-me de que não mudava a intensidade.

Seguramente, não eram socos nem gemidos. Não era ruído de britadeira, nem de trator. Nem motor de carro parado. Nem barulho de compressor. Passaram-se dias, sem que aquele barulho parasse ou mudasse aquela intensidade monocórdica.

Inúteis minhas perguntas ao carcereiro sobre o que havia no compartimento ao lado da minha cela. A cada interrogação feita, o carcereiro de plantão reagia de forma cada vez mais assustada, a ponto de chamar  o "pisiquiatra" do presídio, que após longa sessão de análise, comigo deitado sobre o catre que eu usava como cama, saiu profundamente deprimido com a minha situação e sem condições de emitir o seu diagnóstico.

A partir daquele momento, eu tive a leve impressão de que  estava exposto à visitação pública, tal a quantidade de pessoas que vinham observar-me atrás das grades, cada uma esboçando reações as mais estapafúrdias. Algumas se punham a escrever, outras a ouvirem uns barulhinhos vindos de umas caixinhas de música encostadas ao ouvido; outras ainda se soltavam a cantar, dançar, a tal ponto que a segurança do presídio resolveu se reunir  para encontrar uma solução. 
- Resolveram acabar com a brincadeira. Foi o que consegui captar da conversa entre dois guardas, sempre prostrados a dois metros da minha cela.

A partir daí, convenci-me de ter me tornado incomunicável,ou seja, eu passara a ser um preso de alta periculosidade, sobretudo pelos olhares a mim emitidos, fosse pelos carcereiros, guardas ou até comandantes militares, que se plantavam frente ao portão, sempre escrevendo e passando comunicados pelo rádio instalado em um jipe militar, de onde não arredavam pé.

Mas houve um dia em que não apareceu ninguém. E o carcereiro chegou assoviando, o guarda de plantão leu um jornal inteiro, e, insolitamente, deixou-o cair bem perto do portão, indo embora a seguir. 

Seco por uma notícia do mundo lá fora, como eu estava, corri o risco de ganhar uma sessão de pau-de-arara ou levar um caldo, mas arrastei-o como um gato que toma o brinquedo do outro e pus-me a examinar em que direção  o guarda tinha ido. Não o vi mais. Aliás, nunca mais. Voltei-me então para o jornal. O vento soprava tranquilamente, brincando com as folhas secas do pátio, vindas não sei de onde, uma vez que ali, no campo visual à minha frente, não haviam árvores. 

Os olhos corriam o jornal avidamente, até que esbarraram num COMUNICADO do Ministério da Defesa, avisando que o PRISIONEIRO X se encontrava
 incomunicável por tempo indeterminado, e, mais abaixo, uma nota registrando o DESAPARECIMENTO de Olinto dos Santos, 31 anos, brasileiro, casado, residente à Rua Almirante Bournier, 171, centro; "Quem o vir ou tiver notícias, favor comunicar-se com Maria dos Anjos, no referido endereço. A família agradece." Joguei o jornal de lado. Afinal,  qual a graça de fatos tão idiotas? Comunicados militares, gente desaparecida, eu hein! 

O sol já se ia batendo em retirada, e a penumbra começava o seu reinado ao longo do pátio e logo ocuparia os cantos de minha cela a fazer-me companhia até ao dia seguinte. Então, só me restaria esperar a noite chegar para eu trocar ideias com ela, o vento e as sombras, ora delgadas ora desengonçadas, como um general de reserva.

Alguns dias sem guardas, sem carcereiros mal humorados, avaliei que havia mudado a minha situação. Parecia que estavam sendo "bonzinhos" comigo. Primeiro, foi o jornal, o carcereiro descontraído, depois a suspensão do guarda no portão da cela, e agora, sobremesa no almoço, no jantar, lanche às 21 horas; eu hein!...

Mas durou pouco. Nem uma semana, e chegaram três oficiais e um guarda à porta da cela, e um deles afirmou, meio sizudo e sem ninguém lhe perguntar: É esse aí! Disse apontando para mim, visivelmente nervoso. Um outro, de olhar perscrutativo, disse"Abre!", sem tirar os olhos de mim. Os oficiais entraram na cela e o guarda ficou na porta, de metralhadora em punho, descontrolado a tal ponto que até a arma tremia. Um dos oficiais perguntou-me, em tom irônico: "X, você conhece a ante-sala do inferno?" Sem entender nada, olhei-os todos, de cima a baixo, um a um, detidamente, e lembrei-me do jornal: O "desaparecido" era eu.
- Cuidado, ele é perigoso! Gritou o guarda empunhando a metralhadora, ao que todos anuiram e foram se retirando de costas, devagarzinho. Mas o mais forte deles, meio barrigudo, branco e de bigode, disse pra mim, com a voz cheia de sulismos:
- Você está nela!! E se foram. Eu continuei ali, preso. Sem entender nada. 

Mas um silêncio de pedra tomou conta de tudo, por dias a fio. Não apareceu mais guardas, nem carcereiros, nem militares nervosos, nada. Só que deixaram o portão aberto, sem cadeado e até a corrente levaram. Porém, temendo fuzilamento por "fuga simulada", fiquei mais atento ainda. Dormia o mínimo, pelo risco de não acordar. Foi assim, até aventurar-me a abrir o portão e olhar para o lado de fora e constatar, surpreso, que eu estava largado pra trás, que o quartel fora abandonado e todos se foram...
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